terça-feira, 28 de junho de 2011

O que faz um deputado

“Você sabe o que faz um deputado?” pergunta o candidato piada das últimas eleições, e o leitor de repente se vê em uma situação constrangedora. Afinal, o que faz um deputado? E por que eu ou você não conseguimos responder essa pergunta prontamente?
 

Infelizmente, a educação no Brasil, seja ela em nível básico, fundamental, médio ou superior, deixa muito a desejar na área política. Não é incomum terminarmos um curso de graduação sem saber precisamente o que de fato faz e pode fazer um deputado, um senador, um desembargador ou até mesmo um presidente da república. É duvidoso que até mesmo mais que a metade dos bacharéis em direito, que são necessariamente educados em tais assuntos durante seu curso, dominem tal área do conhecimento.

Isso implica em alguns fatos desagradáveis, como, por exemplo, o de não sabermos votar. Não podemos saber; como é que escolheremos as pessoas mais aptas a assumir os cargos a que se candidatam se nem ao menos sabemos o que o exercício de tais cargos envolve? Como saberemos ao menos se o que um candidato promete cumprir está dentro dos poderes que lhes serão conferidos caso venha a assumir o cargo?
 

Uma empresa não contrataria uma pessoa com as qualificações de zelador para um cargo de gerência, ou mesmo contrataria alguém que, se aplicando a vaga de porteiro, prometesse que iria mudar a gestão de todo o negócio. Ainda assim, nós, sem maior reflexão, fazemos escolhas absurdas como estas na contratação de pessoas aos cargos da mais importante empresa do País, o Estado, responsável pelo nosso bem-estar e segurança.

Não sabemos, também, a quem recorrer quando um ente querido sofre com a violência urbana, e ao seu agressor é aplicada uma sentença branda, além de logo lhe ser concedido o livramento condicional. A quem devemos exigir reformas para que cesse a ocorrência de absurdos desse tipo? Do juiz, que aplicou a pena, da administração pública, que impede, através da má gerência do sistema prisional que os criminosos possam ser presos por um tempo adequado a sua correção, ou dos senadores e deputados, que criaram leis que cominam sanções inadequadas?
 
Uso esse exemplo pela sua abrangência das 3 esferas do poder estatal e pela sua proximidade com a realidade cotidiana, mas são inúmeras as hipóteses em que somos reféns da nossa ignorância, paralisados pela falta de conhecimento político. Tivéssemos uma educação adequada, poderíamos exigir nossos direitos. No entanto, nos vemos de mãos atadas, observando absurdos desse tipo passivamente, dia após dia.

Uma solução efetiva e simples para minimizar o problema seria a inclusão do ensino político através do estudo de partes da Constituição Federal na grade curricular do ensino médio ou fundamental das escolas. Pode parecer absurdo sugerir que todos, do trabalhador braçal ao cientista, aprendam sobre o funcionamento e as funções do Estado, mas o conhecimento destes é fundamental ao exercício da cidadania, do qual nenhum de nós pode se escusar se esperamos um dia nos tornar a grande nação que almejamos ser.

Esse ensino seria um instrumento inestimável para a realização de transformações sociais. Para a sua implantação há recursos, há meios, há necessidade; falta interesse.

Marcelo Melo - Coordenador de eventos da associação dos jovens empresários do Ceará

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