domingo, 16 de janeiro de 2011

"Dois pesos, duas medidas"

Eis artigo do professor Antonio Mourão Cavalcante intitulado “Dois pesos, duas medidas”, veiculado no O POVO e em seu Blog (POVO Online), onde ele desabafa contra a classe política. Confira: 

Estou em terras gaúchas há quase um mes. Tenho procurado conhecer este canto do Brasil cheio de História, tradições e coragem. As regiões são bem distintas e guardam singularidades. Os Pampas, por exemplo, nada a ver com as Serras Gaúchas.O velocímetro do carro alugado indica que já rodamos mais de três mil quilômetros. E dá vontade de correr mais, pois todas as estradas estão em perfeito estado de conservação: pavimentação, acostamento, sinalização. Tudo perfeito, quer sejam rodovias federais ou estaduais. Um prazer de andar. Uma segurança. Tudo indicado, sinalizado, seguro.
Inexorável não lembrar as rodovias do Ceará. Recordo, por exemplo, o trecho Fortaleza–Sobral. Uma decepcionante comparação. Frustrante. E a ideia que estamos numa República Federativa? Isto é, os bens são públicos – de todos, não devem existir privilégios, uns mais, outros menos. Pra cá melhor, pra lá pior! – e em partes que compõem o todo, federados.
A pergunta insiste: por que no Ceará não é assim também? Resposta que eu posso dar: porque os nossos representantes não se importam com isso. Estão, como agora, feito urubus em cima da carniça, buscando um cargo federal, do terceiro escalão, para algum correligionário ou parente. A “coisa pública” que se dane.
Estrada? O que é que eu vou ganhar com isso? Qual vai ser meu lucro? Isso não dá voto. Cada um mais agarrado ao osso que sobra do banquete.
Um exemplo para ilustrar? Ano passado, no interior do Rio Grande, uma ponte foi levada pelas águas. Rio Jacui, mais de 15 pessoas mortas. Passei por lá agora. Ponte reconstruída, inaugurada. Trânsito livre. São 430 metros de extensão por 13 metros de largura. Obra do Governo do Estado.
No Ceará, ponte sobre o Rio Jaguaribe (460 metros de extensão x 10 metros largura). Há oito anos luta-se por sua construção. Ainda se arrasta e só Deus sabe quando será concluída. Mais recentemente a ponte antiga foi bloqueada. Deve está correndo
risco de desabar… 
Vergonha. Eu teria muito vergonha se fosse deputado federal ou senador pelo Estado do Ceará.Quando nós teremos outra sorte?
Antonio Mourão Cavalcante – Médico, antropólogo e professor universitário.

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