sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Sem La Niña, chuvas no Ceará dependem de fenômenos imprevisíveis

Tendência é que o fenômeno La Niña se neutralize até meados de março de 2017, o que pode não interferir positivamente na ocorrência de chuvas no Ceará. Funceme só divulgará prognóstico oficial em janeiro
Embora estejamos em dezembro, qualquer previsão sobre a quadra “invernosa” de 2017 no Ceará pode cair por terra se vento e mar assim quiserem. Isso porque já não há nenhum fenômeno climático excepcional circundando o Estado. Sem El Niño e com La Niña enfraquecida, a esperança de chuvas está em fenômenos pouco previsíveis como o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) e a mudança comportamental dos oceanos — em especial, do Atlântico. Mesmo assim, instituições meteorológicas já fazem suas apostas.
 Meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz explica que La Niña — fenômeno oposto a El Niño, principal causador da seca que já se prolonga há cinco anos no Estado — tende a alcançar o ápice neste mês, mas, até então, não alcançou. Além disso, ele acentuou que, tal como a Funceme vinha indicando ao longo dos últimos meses, “ La Niña deve se transformar em águas neutras em meados de fevereiro ou março” de 2017, o que impossibilitaria que o Ceará recebesse os benefícios dela.
A mesma tese é defendida pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). “Os ventos alísios deveriam estar fortalecidos pra gente dizer que haveria La Niña, mas isso não está acontecendo”, afirmou a climatologista do Centro, Renata Tedeschi.
No último dia 25 de novembro, o CPTEC emitiu boletim afirmando que, ao menos na pré-estação chuvosa, durante dezembro e janeiro, persiste a previsão de maior probabilidade de chuvas abaixo da média no Ceará. Situação semelhante no centro-norte do Piauí, no oeste do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco e no norte da Bahia, segundo o estudo. Considerando o momento de incerteza, a Funceme preferiu não se manifestar sobre a pré-estação e só divulgará prognóstico oficial em janeiro.

Sem La Niña, restam, portanto, os VCANs e a mudança de temperatura das águas oceânicas para garantir ou não a ocorrência de chuvas no Ceará. Sobre os primeiros fenômenos, Tedeschi e Fritz concordam que, embora sejam comuns no Nordeste, são de difícil previsão a médio e longo prazos. “Se acontecer, a previsão de chuvas abaixo da média (na pré-estação) já pode não ser mais verdadeira”, projeta Tedeschi. “Se o Ceará estiver no centro do vórtice, a tendência é não chover. É nas laterais do sistema que tem chuva”, pontua Fritz.

Já a respeito dos oceanos, Tedeschi diz que o Atlântico está mais aquecido do que o normal, o que interfere no posicionamento climatológico da Zona de Convergência Intertropical (ZCI) — sistema mais importante na ocorrência ou não de chuvas ao norte do Nordeste. “Se ele (o oceano) permanecer como está, deve ter menos chuva na estação”, disse a climatologista.

“Temos águas aquecidas acima e abaixo do Equador neste momento, o que não é ideal para chuva. A gente está aguardando até o início do próximo ano para ver se isso muda”, concluiu Fritz. 

(Jornalista Luana Severo/O POVO)

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