terça-feira, 17 de setembro de 2013

Criadores cearenses apontam altos custos na produção do leite

Como em outros setores da economia, a seca está provocando quedas na bacia leiteira do Estado, exigindo ajuste de valor

A cadeia produtiva do leite no Ceará enfrenta uma situação desigual entre os seus setores. Afetada por dois anos seguidos de seca, produtores rurais, indústrias de laticínios e o comércio varejista tentam se adequar às imposições do mercado internacional e às peculiaridades locais e regionais.

Atualmente, o preço do leite para o produtor rural é considerado historicamente  o maior, mas os criadores reclamam do alto custo de produção e querem novo reajuste. O setor enfrenta escassez do produto para atender à demanda regional e existe uma pressão para que o varejo faça um realinhamento do valor de compra para a indústria de laticínios.

Na ponta final da cadeia produtiva, os consumidores reclamam do valor do leite e de seus derivados majorados nas prateleiras. Costumeiramente, os produtores rurais são apontados como os vilões do aumento do produto. "Essa é uma falsa impressão da população, quem está ganhando é o setor varejista que reajusta o preço nas gôndolas e prateleiras em proporção maior, e não repassa para a indústria, que sofre pressão dos criadores", observa o presidente da Associação dos Produtores de Leite do Estado do Ceará (Aprolece),  Geraldo Magela Frota. O produtor e laticinista, Oswaldo Rebelo observa que as indústrias ainda não repassaram o reajuste dado ao produtor para o varejo.
 

Atualmente, o preço do litro de leite in natura pago ao produtor pelos laticínios varia entre R$ 1,00 e R$ 1,30, dependendo da região e da quantidade fornecida pelo criador ao longo do ano. Na Região Metropolitana de Fortaleza, o preço costuma ser mais elevado em relação ao sertão, que tem custo de frete e maior dificuldade de acesso às fazendas produtoras. "A seca trouxe dificuldades para todos, mas os pequenos produtores foram os mais atingidos. Não é só a estiagem que afeta o setor, pois há falta de leite no mercado mundial, quebra de safra nos Estados Unidos, Argentina e Nova Zelândia. No mercado internacional, globalizado, o preço dos insumos sobe, elevando o custo de produção", avalia Frota.
 

Incentivos
O veterinário Francisco Barbosa, responsável  por duas unidades de alta produção leiteira no sertão cearense, com 30.000 litros por dia, afirma que "o leite é a proteína animal mais barata e deveria ter mais incentivos para sua sustentabilidade, pois foca principalmente em dois segmentos importantes, que é o social e o econômico.  E  mesmo para os grandes produtores, fica difícil produzir leite ao se calcular sem paixão o custo total da atividade leiteira, quando nesses custos envolvem alimentos concentrados e  volumosos, sal mineral, medicamentos, vacinas, combustível, energia elétrica, materiais para procedimentos reprodutivos, material para ordenha, material de limpeza, material de consumo, manutenção, reparo das instalações, mão de obra, impostos, taxas, transportes, serviços, despesas administrativas, mortes de animais por acidentes e por descarte involuntário ".

A tonelada de soja, um dos componentes da ração animal, em setembro de 2012, custava R$ 760,00 e hoje, um ano depois, custa R$ 1.450,00. "Houve aumento do custo de mão de obra, energia elétrica e há grave dificuldade de água", observa o produtor rural e laticinista, Oswaldo Rebelo. "O momento é delicado e de dificuldades e só vai permanecer no mercado quem tem condições, tecnologia e está investindo muito".
 

Dificuldades
O cenário, em médio prazo, é de dificuldades para o setor. O verão que o Ceará atravessa (como é conhecida essa época do ano) irá trazer mais obstáculos para os produtores rurais.

"Se não fossem as chuvas de maio e junho passados o quadro era desesperador", disse Magela Frota. A escassez de águas nas fazendas vai provocar ainda mais queda na produção leiteira no Estado.
Os dados divulgados pelo governo do Estado com base na vacinação contra a febre aftosa registram aumento do número de bovinos. Entretanto, dirigentes do setor agropecuário discordam das estatísticas.

"Não temos números oficiais confiáveis sobre a produção de leite e o rebanho no Ceará. Na minha avaliação, houve uma queda de pelo menos 40% na oferta de leite em relação à média histórica para o período", disse Magela Frota.
 

O produtor Oswaldo Rebelo estima em, pelo menos, 50%. O diretor da Unidade de Pecuária do Centro-Sul do Ceará (Upeci), com sede na cidade de Iguatu, Mairton Palácio, estima queda na oferta de leite na região em cerca de 30%.
 

Em um ponto, os produtores concordam. O setor está mudando e os aventureiros e pequenos criadores sem tecnologia e capital vão desaparecer, só permanecendo quem investiu em irrigação, melhoria da qualidade genética dos animais e que apresentam escala de produção. "Fora isso, ficará a agricultura de subsistência", observa Magela.
 

Os dados divulgados pela Aprolece mostram que há cerca de 80 mil produtores de leite no Ceará.  A produção está concentrada nas mãos de uma reduzida fatia. Cerca de 10% dos criadores no Estado respondem por 70% da produção. "Essa concentração é uma tendência mundial, que vem se consolidando a cada ano", disse o presidente da Aprolece, Magela Frota.

(DN)

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