Acolhido por um abrigo para moradores de
rua, Helder Marques se preparou sozinho para fazer o Enem. Ele ficou em
quarto lugar na seleção pelo sistema de cotas para Ciências Econômicas
da UFC
Fevereiro guarda um novo capítulo na vida de Helder Marques, 28. Com o início do semestre letivo da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele assume vaga conquistada no curso de Ciências Econômicas após se dedicar aos estudos sozinho junto à estante de livros da Casa São Francisco, no Centro. O local acolhe pessoas em situação de rua e acolheu Helder meses atrás. Com a seleção na primeira chamada do processo seletivo, Helder preenche uma das 40 vagas destinadas aos alunos de escola pública pelo sistema de cotas da UFC. Volta às salas de aula depois de seis anos. Será universitário.
Helder se preparou sozinho para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013. Antes, havia trabalhado com vendas em uma empresa de marketing em Brasília. Chegou a Fortaleza no início de 2012 e ficou sem emprego meses depois. Longe dos familiares, que ficaram em Montes Claros (MG), viu-se sem dinheiro para comer e pagar o aluguel. “Fiquei quatro dias na rua, não tinha coragem de pedir”, recorda. Foi encaminhado em outubro ao abrigo mantido pela Comunidade Católica Shalom.
Escolheu passar o tempo, entre a fabricação de vassouras e formações da casa, junto aos livros. “Nos primeiros dias, conheci a biblioteca e senti no coração que eu poderia realizar meu sonho”. E então começou a se preparar para o Enem, com três horas diárias de dedicação. Criou os próprios simulados do Enem com provas de anos anteriores. Os esforços deram resultado.
A aprovação
Helder recorda o nervosismo dos dias do Enem. Mas a própria história serviu de motivação: “Eu estava representando pessoas que, como eu, não tinham esperança”. A aprovação, conta, trouxe surpresa: foi o quarto lugar entre as vagas para cotistas. Para o futuro, planeja cursar inglês ou francês nas Casas de Cultura Estrangeira da UFC.
“A aprovação foi um resultado, mas eu tive que me dedicar diariamente. Vou me tornar um excelente profissional se viver o momento acadêmico e não pensar apenas no diploma”, projeta Helder.
Serviço
Casa São Francisco
Para ajudar com doações ou voluntariado: Rua Conselheiro Tristão, 138, Centro
Telefones: 3252 3530 / 8896 4099
Saiba mais
A Casa São Francisco tem uma despesa mensal em torno de R$ 15 mil. Além da renda gerada pelas atividades dos internos, é mantida com doações. São sete funcionários e cerca de 25 voluntários.
Segundo Antônio Pereira, o albergue não tem convênio com órgãos governamentais desde a primeira gestão da ex-prefeita Luzianne Lins (PT). À época, eram R$ 33 mil a cada dois meses, o que dava para manter assistente social e psicólogo para os internos. De acordo com Pereira, a expectativa é por um convênio sinalizado pelo atual prefeito.
(Jornal O Povo)
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