O passado de um candidato é a única matéria-prima que o eleitor tem para saber quais são as chances de que ele realmente cumpra, depois de eleito, as promessas feitas durante a campanha, diz o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto. Ele recomenda que o eleitor procure saber se o candidato tem experiência administrativa ou se é suspeito de envolvimento em esquemas de corrupção.
“Os candidatos falam de projetos para o futuro, que não sabemos se poderão ser de fato cumpridos. O eleitor deve, então, buscar elementos para verificar, no passado deles, a probabilidade de que as promessas realmente se concretizem”, recomenda Barreto.
Os meios para obtenção dessas informações podem ser matérias veiculadas pela imprensa, a própria biografia disponibilizada pelos candidatos e a internet. “Vale a pena gastar um tempo para garimpar informações que ajudem a traçar um diagnóstico mais preciso.”
Barreto destaca que simpatia e carisma são atributos que não devem ser deixados de lado na hora da escolha, mas não podem, “de forma alguma”, se sustentar sozinhos. “Os grandes líderes devem ter carisma e capacidade de comunicação, mas também lastro político, um passado de contribuições relevantes. Na medida em que a democracia brasileira amadurece, não cabem mais pessoas que tenham apenas carisma.”
Conhecer a
ideologia e a estrutura do partido do candidato também pode ajudar o eleitor a
identificar aquele que corresponde a suas exigências. Para Barreto, embora as
legendas brasileiras não tenham muita rigidez ideológica, elas podem oferecer
informações importantes para a decisão. “Se o candidato [à prefeitura] pertence
a um partido muito pequeno, pode ser que ele não tenha amparo na Câmara de
Vereadores, pode faltar sustentação política. Também é importante observar o
partido para saber quem são as pessoas que assumirão os cargos de secretários.
Elas provavelmente vão sair do mesmo partido”, ressaltou.
No pleito
deste ano, o eleitor precisa ainda analisar o alinhamento do candidato a
prefeito aos governos estadual e federal. “É preciso perceber se o que se
deseja é um prefeito que esteja na mesma linha dos demais governos ou se a
preferência é por alguém que seja de oposição”, acrescentou Barreto.
Na opinião da
diretora do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, organização da
sociedade civil que reúne 51 entidades de diversos segmentos, Jovita Rosa, o
eleitorado deve ficar atento, ainda, ao enquadramento das promessas à área de
atuação específica do cargo pleiteado. Ela citou o exemplo de candidatos a vereador
que prometem construir hospitais, reformar escolas e dar aumento aos
professores.
“Não é papel
do Legislativo. Ele [vereador] até pode apresentar um projeto de lei que trate
da questão, mas não pode prometer fazer coisas que cabem ao prefeito. É importante
saber a função de cada cargo. Legislativo é para fazer leis e, principalmente,
fiscalizar o Executivo”, alertou. “Às vezes, essas falsas promessas
indicam má-fé, mas existem casos de despreparo do candidato, que também
desconhece as atribuições do cargo ao qual está concorrendo.”
Fonte: Agência Brasil
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