A guerra de preços entre as operadoras de telefonia móvel nos últimos anos puxou uma expansão do consumo acima da capacidade das redes. O número de linhas subiu 40% entre 2009 e 2011, para 242 milhões, e o consumo médio de dados e voz por usuário explodiu no período. Os investimentos em infraestrutura, porém, ficaram abaixo do necessário e afetaram a qualidade do serviço, segundo especialistas.
"O que temos visto são reclamações de pessoas que tentam ligar, mas a ligação cai. Ou a internet que não funciona. As duas falhas são causadas pela superlotação das antenas", disse João Paulo Bruder, analista de telecomunicações da consultoria IDC.
Na semana passada, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) anunciou uma intervenção no setor. O órgão proibiu que as operadoras líderes em reclamações em cada Estado vendam novas linhas a partir de amanhã. A medida afetou a TIM, a Claro e a Oi.
"A queda de preços estimulou o aumento das vendas e do uso do telefone. As operadoras investiram, mas, em alguns locais, o uso do celular foi maior do que elas estimaram", disse o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude.
A oferta de planos ilimitados para ligações entre números da mesma operadora fez o brasileiro falar mais ao celular. A novidade, introduzida pela TIM em 2009 com o lançamento do plano Infinity, foi copiada ou adaptada pelas concorrentes.
A população aproveitou. Gilmara Cerqueira, por exemplo, trabalha no turno da noite em um restaurante em São Paulo e fala com amigos durante o trajeto do trabalho até em casa - são três horas e meia no ônibus.
O tempo médio que o brasileiro gasta conversando ao celular saltou 33,7% nos últimos três anos, para 115 minutos por mês em 2011, aponta a Teleco. Com o brasileiro mais tempo ao celular e um número de linhas maior, o tráfego de voz disparou cerca de 85% entre 2009 e 2011. O serviço de dados cresce ainda mais rápido. Em 2010, segundo a Cisco, o tráfego via smartphones subiu 112% sobre o ano anterior.
O preço da banda móvel por celular cai junto, à medida que a população "renova" os aparelhos. No ano passado, 9 milhões de smartphones foram vendidos no Brasil, alta de 84% em relação a 2010, segundo a IDC. As operadoras lançaram a "internet pré-paga ilimitada" a custos reduzidos - R$ 0,33 ao dia pela Oi e R$ 0,50 pela TIM, por exemplo.
As operadoras que terão as vendas interrompidas pela Anatel se disseram "surpresas" com a decisão. A TIM entrou na Justiça para tentar reverter a determinação. Em comunicados, TIM, Claro e Oi informaram que investem bilhões todos os anos em infraestrutura. Mesmo assim, as companhias afirmaram que vão apresentar planos de ação para resolver eventuais falhas e que acelerarão investimentos. (Estadão)
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