A crise política e de gestão pela qual passa o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), tendo em vista as denúncias de fraudes na utilização dos recursos em operações de crédito realizadas pela instituição, na opinião de economistas e representantes do setor produtivo estadual, coloca em xeque o futuro do principal banco de fomento para o desenvolvimento econômico e social da região. Afinal, o BNB configura-se como gestor de um das mais importantes linhas de financiamento para as empresas nordestinas, a exemplo do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Para eles, a situação é lamentável, pois veio à tona justamente no momento em que o banco luta por mais aporte de recursos para avançar em sua atuação, assim como tenta manter a exclusividade na gestão do Fundo para o Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), criado por meio da Medida Provisória (MP) 564/2012.
O fato, é que mesmo envolvido nas denúncias, já foi sinalizado, por meio dessa medida, o aporte de R$ 4 bilhões até 2014, tendo em vista sua capitalização. Ao mesmo tempo, ainda que não venha a operacionalizar sozinho o FDNE, o banco deverá ter a preferência nas contratações.
Entretanto, apesar da boa notícia, o mercado tem questionado sobre a continuidade dos investimentos necessários à manutenção do crescimento da economia nordestina.
Na avaliação do economista Andrei Simonassi, coordenador do curso de Finanças da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor do Caen - programa de mestrado em Economia da UFC - um episódio como este, quando põe em xeque a utilização das fontes de recursos de forma eficiente provoca dois questionamentos.
"Será que o Nordeste vai continuar crescendo? Pois a gente começa a duvidar sobre a continuidade dos investimentos necessários para o avanço das economias locais. Ao mesmo tempo, se de um lado está sendo garantido esse aporte de R$ 4 bilhões para capitalização do banco, do outro verifica-se que os recursos gerenciados pela instituição não sendo utilizados eficientemente, será que isso não pode comprometer o potencial de desenvolvimento da região?". "Claro que só vamos saber com a apuração dos fatos", argumenta o economista.
Nesse contexto, Simonassi acredita que a quebra de monopólio na gestão do FDNE , tirando a exclusividade do BNB, poderá a ajudar a alocar de maneira mais eficiente os recursos disponibilizados. "Dá mais chance para que outras instituições venham a enxergar mais oportunidades de investimento e evita o que está acontecendo agora", afirma.
Impacto negativo
Conforme explica Fernando Castelo Branco, diretor da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) e integrante do Conselho Temático de Economia, Finanças e Tributação, "não há dúvida do impacto negativo para a imagem do banco, até pelo momento em que a revitalização do BNB passa a ser objeto de uma MP".
"O Ministério da Fazenda deu parecer favorável ao aporte de R$ 4 bilhões para capitalização do banco. Mas a medida ainda será votada em Congresso. Pode ser que diante do quadro atual, algum parlamentar não veja com bons olhos aprovar a injeção de recursos em um banco regional em meio a essa situação", pondera.
De acordo com ele, o BNB precisa voltar a ser "isento de influências políticas, adotando perfil mais técnico e desenvolvimentista". "Essa crise poderá vir a influenciar as decisões futuras relacionadas ao banco, podendo criar, ainda, um cenário restritivo na defesa dos recursos para a região", destaca.
Dessa forma, analisa: "O BNB deve tomar atitudes que mostrem que este é um episódio pontual, que não condiz com a atuação normal do banco. Assim, a diretoria precisa ser ágil em apurar e tomar as medidas cabíveis", acrescenta.
Fonte:Jornal Diário do Nordeste
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