A agitação de final de ano é intensa. Pessoas amontoam-se nas lojas para as
compras de última hora. Todos com muita pressa, tentando encontrar o presente
ideal para os amigos e familiares. Os lojistas capricham na decoração, com vitrines
repletas de árvores iluminadas por lâmpadas multicoloridas e arranjos com
motivos natalinos. Senhores com longas barbas e cabelos brancos exibem sua
falsa opulência, enfiados numa vestimenta vermelha complementada por botas e
gorros de inverno, indumentária nada compatível com a atual estação do ano no
país tropical. A conhecida e pontuada gargalhada remata a figura eminentemente
ártica, assim como a neve feita de algodão que reforça a impressão de estarmos
realmente em outra região do planeta. Os pequenos se encantam com tamanho
esmero e criatividade, uma estratégia inteligente dos comerciantes para atrair
e convencer o consumidor sazonal, que nessa época tradicionalmente costuma
efetuar compras desnecessárias, motivadas pelo “espírito natalino”.
Em meio à correria, o menino é esquecido. Todos se voltam ao apego
mercantilista e às futilidades do capitalismo, deixando para trás o verdadeiro
homenageado. O aniversariante espera pacientemente pela nossa atenção, porém
não temos tempo nem para uma singela lembrança. Afinal, nascer numa estrebaria
em meio aos animais não confere importância alguma a ninguém, muito menos nos
dias atuais. Preferimos as ceias fartas e os excessos de todo tipo. Porque a
alegria do Natal deve prevalecer, representada pelo seu “símbolo máximo” que
encanta adultos e crianças. A atuação bem ensaiada e repetida inúmeras vezes
não deixa dúvidas quanto ao sucesso do personagem. Papai Noel chega do Pólo
Norte num trenó puxado por renas para atender aos incontáveis pedidos de
presentes. O sacrifício da roupa incômoda e do calor insuportável é
recompensado, garantindo uma renda extra no final do ano.
Estamos mais distantes e insensíveis aos apelos daquele que veio para nos
salvar. Os presépios são cada vez mais raros e não atraem como as novidades
tecnológicas da atualidade. Numa época não muito distante, os pequenos se
encantavam com a simplicidade e o simbolismo daquele que foi um dos momentos
mais importante para a humanidade. O nascimento do Menino Jesus já não comove
as pessoas, que elegeram outras prioridades com uma programação nada voltada
aos preceitos cristãos. Deixamos para trás as boas ações que levavam o auxílio
aos mais necessitados. Por conta dos compromissos agendados, nem percebemos que
o Filho de Deus perambula pelas ruas amparando o catador de recicláveis, ou que
permanece ao lado do leito de um enfermo, aliviando suas dores; que consola a
mãe que perdeu seu filho para o mundo das drogas e do crime, ou que sofre com a
tristeza do idoso esquecido pelos familiares em algum abrigo qualquer; que
observa de perto o menosprezo e a indiferença diária aos menos privilegiados na
vida, que num simples gesto buscam tão somente ajuda para o sustento dos
filhos.
O Natal está mais colorido, mas também, muito menos feliz. O vazio do consumismo
desenfreado prevalece sobre os sentimentos de amor ao próximo e de perdão.
Deixamos passar a oportunidade de livrar nosso coração do rancor, da inveja, da
soberba e da usura. Continuamos a eleger futilidades como prioridades em nossa
vida. E o menino, mais uma vez, acaba esquecido. Mas ELE é paciente, e só
espera uma oportunidade para nos receber de braços abertos. Os mesmos braços
que um dia, foram cruelmente pregados no madeiro. O menino está chegando, mas
ainda há tempo. Então, apressemo-nos.
(José Luiz Boromelo, escritor e cronista - strokim@bol.com.br)
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