Com satisfação, registramos e-mail que nos foi enviado por José Luiz Boromelo, Policial Rodoviário da reserva, residente na cidade de Marialva no estado do Paraná, registrando leitura de artigo de sua autoria publicado em nosso Blog no dia 12 de outubro, e nos encaminhando novo artigo, desta feita, com o título "O Fim do Respeito". Trata-se de um problema atual, vivenciado pela sociedade, e que merece reflexão. Ao José Luiz, nossos agradecimentos pela atenção, e também o nosso respeito e admiração. Uma constatação interessante é que mesmo sendo o Brasil um país de enorme dimensão territórial, os problemas se assemelham entre as regiões mais distantes, assim como a convergência de pensamento do seu povo
Veja abaixo, íntegra do e-mail que nos enviado, seguido do artigo:
"Prezado Chico Almir, foi com satisfação que encontrei a crônica do dia 12 de Outubro em seu site. E mais ainda, numa região tão distante da minha. Vejo com alegria que o brasileiro é mesmo um povo unido, que preserva seus costumes e suas crenças, não importando a região em que se encontre. Por conta dessa interação, envio hoje a crônica de minha autoria intitulada "O fim do respeito", em alusão a um comportamento de parte de nossa gente, que insiste em apresentar uma postura incompatível com a grande maioria da população. Se julgar interessante para divulgação em seu site, agradeço imensamente."
Um grande abraço, que Deus sempre lhe acompanhe.
Att... José Luiz Boromelo
O Fim do Respeito
A sociedade convive atualmente com altos níveis de violência. Os exemplos se sucedem de maneira espantosa e aparentemente não se vislumbra uma "luz no fim do túnel". A carência de valores morais é evidente e não escolhe classe social, etnia ou credo religioso.
Está presente em todos os segmentos, como a um alerta constante mostrando que algo deve ser feito para, pelo menos, minimizar esse comportamento. Sabe-se que a origem dessa maneira de agir do ser humano é fruto da educação herdada na infância.
Outros fatores, como a falta de estrutura familiar, a condição de vulnerabilidade social e o convívio freqüente e muito próximo com a violência acabam desencadeando certas atitudes consideradas em desacordo com as normas estipuladas pela sociedade.
Desajustes comportamentais seriam, portanto, o desvio deliberado de uma conduta previamente estabelecida e que busca em sua essência, induzir o indivíduo a buscar o convívio harmônico com seus semelhantes.
Mas, em determinadas situações, tem-se a impressão de que toda e qualquer iniciativa utilizada para tentar reverter esse quadro caótico, será insuficiente e inócua. É incompreensível e inaceitável que o cidadão de bem, cumpridor de seus deveres, seja coagido por aqueles que não possuem um mínimo sequer de bom senso e equilíbrio, e que fazem da convivência diária uma constante prova de auto-afirmarão.
Ficou esquecida no passado aquela imagem romântica do cavalheiro que abria uma porta ou dispunha uma cadeira para a dama. Foi-se o tempo em que os professores eram presenteados pelos seus alunos com alguma fruta, um ramalhete de flores ou um bilhete de agradecimento.
Hoje, os educadores são vilipendiados, constrangidos e agredidos, mostrando o lado perverso de uma "modernidade" frágil e controversa, enquanto admitem-se direitos plenos aos delinqüentes juvenis, amparados por um Estatuto totalmente obsoleto para a realidade atual.
Apesar das campanhas educativas, nosso trânsito continua fazendo vítimas inocentes. A civilidade é artigo de luxo numa convivência volúvel e atribulada, onde a lei do mais forte impera. A imprudência é aliada constante da falta de educação de motoristas e pedestres, transformando o caos urbano em arena para os mais diversos embates, muitas vezes, com perdas irreparáveis em ambos os lados.
E onde está o respeito? Onde fica a necessidade da observância da legislação de trânsito, pelos partícipes desse sistema tão complexo? Esse comportamento unilateral apresentado pelo motorista brasileiro é fator preponderante para a má qualidade das relações entre os integrantes do sistema. Somem-se a isso as deficiências viárias e de infraestrutura, e teremos aí a receita ideal para que a tragédia urbana persista.
Mas essa é apenas a ponta de um imenso iceberg, que precede o degelo gradual e contínuo dos conceitos de decência e moralidade de nossa gente. O que dizer de certos elementos por esse país afora – porque o fato se repete em todas as regiões - que comumente adotam como passatempo a depredação do patrimônio público como lixeiras, telefones públicos, sinalização de trânsito e outros? O que leva esses inconseqüentes a tomarem tais atitudes, apenas pelo simples prazer em destruir o bem comum?
Qual seria a justificativa de um jovem que às quatro horas da manhã faz estremecer as janelas e os tímpanos alheios com um som estupidamente alto, quando a maioria da população faz uso de seu merecido descanso?
Existe algum tipo de respeito nisso? Nem aos seus próprios ouvidos, ensurdecidos pela imbecilidade de uma demonstração gratuita de pretenso poder. Respeito que falta também àqueles que fazem da via publica seu depósito particular de lixo, contaminando o meio ambiente com resíduos impregnados por uma injustificada indiferença.
Diariamente nossas crianças são bombardeadas por uma programação televisiva acintosa e escandalosamente erotizada, roubando-lhes precocemente a inocência. Cenas constantes e persistentes de comportamentos lascivos, onde a moda do momento é o sexo fortuito e sem compromisso, evidenciam uma conduta equivocada e desprovida de princípios que norteiam toda uma sociedade.
Onde está o respeito aos preceitos primordiais de nossa já combalida instituição familiar? Como educar nossos filhos de maneira íntegra, se os responsáveis pelo entretenimento de massa nos expõem diariamente aos seus devaneios insanos com justificativos factóides, amplificados por um mercantilismo capitalista e apoiados por instituições públicas omissas e coniventes com a situação? Como se orgulhar de um carnaval onde a atração principal é a exposição gratuita e escancarada do corpo, estrategicamente propenso a closes dos mais inusitados possíveis?
Esses são apenas alguns exemplos de como o nosso país caminha a passos largos para um colapso de valores éticos e morais. Talvez, com a mobilização da sociedade, ainda haja tempo para que alguma coisa seja feita.
Até que isso aconteça, de forma melancólica, só me resta concordar com uma saudosa dupla, que privilegiando a música sertaneja de raiz eternizou em seus versos a célebre frase: "Estamos no fim do respeito, mundo velho não tem jeito, a vaca já foi pro brejo..."
José Luiz Boromelo
Policial rodoviário da reserva, em Marialva (PR)
Policial rodoviário da reserva, em Marialva (PR)
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